Compressões Nervosas

Os nervos, durante os seus percursos do forame intervertebral até a mão, passam por vários compartimentos anatómicos, onde existem espaços reduzidos, podendo, assim, serem comprimidos nestes canais. Nesses sítios existe risco de compressão pelo desequilíbrio da relação conteúdo/continente. Qualquer fator que modifique essa relação leva ao risco de compressão aos nervos, caracterizando síndromes compressivas.

Bernardino Ramazzinni introduziu o conceito de que o trabalho pode causar doença, descrevendo as lesões decorrentes do contato com chumbo, arsênico, enxofre, ouro, etc. Mais recentemente, vêm sendo mais bem definidas as relações de causa e efeito. Entre elas, arbestose, silicose e beriliose.

O esforço repetitivo tem sido identificado como causador de compressão nervosa. Entretanto, o paciente poderia já ser portador de uma compressão anatómica do nervo. Nesse sentido, o esforço repetitivo aumentaria a sintomatologia. Esse assunto ainda é controverso, uma vez que, hoje, fala-se de proporções epidêmicas das compressões nervosas provocadas pela LER (Lesões por Esforço Repetitivo) ou DORT (Doença Osteo-musculares Relacionadas com o Trabalho).

De acordo com o CDC ( Center for Disease Control) se um trabalhador desenvolve sintomatologia de compressão do nervo mediano e tem uma eletroneuromiografia (ENMG) positiva para compressão nervosa, no canal carpiano e trabalha com repetição ou força, essa compressão deve ser relacionada ao trabalho.

Nos EUA, as compressões nervosas, são tratadas como um problema de saúde pública, pois afeta pessoas de várias idades e diferentes profissões: trabalhadores de linha de montagem, executivos, utilizadores de teclado, atletas, músicos e donas de casa.

Não se conhece, nem foi ainda documentada, a taxa de prevalência das compressões nervosas na população em geral. Sabe-se que é uma das causas mais comuns de consulta aos cirurgiões de mão. O aumento da prevalência pode ser atribuído ao melhor conhecimento da doença, do diagnóstico e do tratamento. Sobretudo, porque são notificadas e reconhecidas como acidentes de trabalho.

Kelsey, em 1980, fez uma comunicação, que apesar de não ser especifica para compressções nervosas, é considerada a primeira tentativa de usar dados nacionais para descrever o problema nos EUA. Os principais achados, por ano, foram: 16.000.000 de pacientes têm uma dispensa do trabalho ou uma consulta com especialista de mão; as lesões são do sistema músculo-esquelético e do sistema nervoso, afetam 2/3 dos trabalhadores e são responsáveis por 500.000 hospitalizações, 6.000.000 de consultas de urgência e 12.000.000 de consultas a especialistas.

Kelsey, em 1992, também nos EUA, fez um segundo comunicado, baseado apenas em problemas de compressão nervosa. Os principais achados foram: 2.699.602 consultas, representando 12,5% do total, sendo que 90% era de compressão do nervo mediano e 8% de compressão de outros nervos. Desses pacientes, 2.341.790 foram operados representando 86,7% das consultas e 32,8% do total das cirurgias. Desses procedimentos cirúrgicos 2.186.811 ( 86,7% ) foram para descompressão do canal carpiano e 154.979 (6,6% ) para outras compressões nervosas.

O que causa

A consequencia de uma compressão nervosa pode variar desde uma simples parestesia até anestesia permanente e atrofia muscular.

Cada nervo pode ser comprimido em diferentes locais do seu percurso do pescoço, onde sai da medula com o nome de PLEXO BRAQUIAL e se divide nos nervos que terminam na mão: Mediano, Ulnar e Radial.

O próprio PLEXO BRAQUIAL pode ser comprimido recebendo o nome de SÍNDROME DO DESFILADEIRO CÉRVICO TORÁCICO.

O nervo MEDIANO pode ser comprimido no cotovelo pelo ligamento de Struthers, na arcada do pronador, SÍNDROME DO PRONADOR, SÍNDROME DO INTERÓSSEO ANTERIOR e no punho SÍNDROME DO CANAL DO CARPO.

O nervo ULNAR, pode ser comprimido no cotovelo SÍNDROME DO TÚNEL ULNAR e na mão, no punho, SÍNDROME DO CANAL DE GUYON.

O nervo RADIAL pode ser comprimido na região do cotovelo, quando passa na arcada dos supinadores, músculos que rodam o antebraço para fora, mão para cima. SÍNDROME DOS SUPINADORES. Esta arcada também é chamada arcada de Froshe. Pode ainda ser comprimido no 1/3 médio distal do ante braço, entre os músculos bráquio radial e o músculo longo extensor do punho. Foi descrita em 1932 por Wartemberg e leva seu nome SÍNDROME DE WARTEMBERG.

Sintomas:

Exame clínico onde são procurados déficit de sensibilidade com testes de discriminação de dois pontos (Weber) e os monosfilamentos de cores e diâmetros diferentes que são utilizados para testarem a sensibilidade. Atrofia de grupos musculares e sinais clínicos que indicam determinado nervo lesado. Por exemplo, o sinal de Tinel que consiste em um choque referido pelo paciente quando se toca na área que um nervo poderá estar comprimido. Teste de Froment, específico para lesão do nervo ulnar - o paciente é impossibilidado de segurar uma folha de papel entre o polegar e o indicador, com todos dedos juntos e estirados, sem dobrar a falange distal do polegar.

Diagnóstico

Exame clínico acurado, pesquisando sinais de sintomas de cada nervo nos locais onde possam estar comprimidos. O sinal de TINEL, choque � percussão, atrofias localizadas, áreas de dormência são sinais que orientam o especialista a localizar qual e onde o nervo está localizado.

A ENMG EletroNeuroMioGrafia, auxilia bastante no diagnóstico das lesões localizadas. Ainda não é um exame confirmado para as compressões do nervo mediano na arcada do pronador, exceto quando já existe deficit, como também do supinador e síndrome do desfiladeiro inicial. Nos casos de Síndrome do Canal do Carpo e Compressão do Nervo Ulnar no Cotovelo e no Canal de Guyon é precisa.

Tratamento

O tratamento pode ser clínico/conservador ou cirúrgico. Quando a sintomatologia é apenas de formigamento (parestesia), medidas restritivas de movimentos que aumentam a compressão podem minorar a sintomatologia. Imobilizações e medidas fisioterápicas também podem ajudar. Os medicamentos não tem muita utilidade. A grande maioria dos paciente que procuram um especialista já tomou diferente tipos de anti inflamatórios, analgésicos e medicamentos de uso empírico como vitaminas do complexo B.

A definição da melhor conduta deve ser definida após avaliação especializada.